domingo, 28 de outubro de 2012



Esporte Escolar X Esporte Rendimento

Silvia Stelmastchuk
Sueli Carrijo Rodrigues

Esportes Educacionais
O  principal  equívoco  histórico  do  entendimento  do  esporte-educação  é  a sua percepção  como  um ramo  do  esporte  rendimento.  Nesta  percepção  equivocada,  as competições  escolares,  que  deveriam  ter  um  sentido  educativo,  em  vez  disto, simplesmente reproduzem as competições de alto nível, com todas suas características, inclusive com seus vícios deformando qualquer conceituo de educação. A educação, que tem um fim eminentemente social, ao compreender o esporte como manifestação  educacional,  tem que exigir do chamado esporte-educação um conteúdo fundamentalmente educativo.
Na argumentação de que o esporte na escola pode ser um dos meios mais efetivos de formação de jovens, a prática esportiva como educação social será indispensável nos seus processos de emancipação. Embora exista literaturas ( Kunz, 2004, Bracht, 2003, Tubino,2001 ) na defesa o esporte-educação desvinculado de padrões de rendimento e somente com compromisso educativo, as experiências ainda são escassas. Uma das experiências aceita nesse sentido foi a desenvolvida no Brasil,em 1989,nos Jogos Escolares Brasileiros, com cerca de  aproximadamente  3600  estudantes  participantes,  sob  responsabilidade  do  próprio autor, que na ocasião dirigia a antiga secretaria da Educação Física e Desportos, ligada ao Ministério da Educação. Naquela oportunidade, juntamente com educadores brasileiros, foi possível desenvolver aqueles jogos, com referência em cinco princípios sócio-educativos  que  foram:  o  princípio  da  participação,o  principio  da  cooperação,  o princípio da co-educação, o princípio da integração e o principio da co-gestão ou da responsabilidade.
Desta  maneira  podemos  registrar  que,  o  esporte-educação  com  sua responsabilidade de conteúdo no sentido de formação, já é uma questão sócio-educativa que cada dia passa a receber e provocar discussões mais profundas.O Programa Segundo Tempo se encaixa no esporte educação e tem como públicoalvo crianças, adolescentes e jovens expostos aos riscos sociais. Promover encontro de abrangência  nacional  dos  parceiros  do  Ministério  do  Esporte  no  Programa  Segundo Tempo, com vistas a aprofundar os debates sobre o esporte como fator de inclusão social, discutir os procedimentos de implantação, desenvolvimento e gestão.
OBJETIVOS
a) Fortalecer o envolvimento e o compromisso de gestores e coordenadores-gerais com o Programa Segundo Tempo;
b) Promover a reflexão como referencial para intervenção na realidade;
c) Promover a difusão do conhecimento e conteúdos do esporte;
d) Qualificar recursos humanos para coordenar e ministrar as atividades esportivas;
e) Difundir a proposta pedagógica, visando sua observância e o controle social;
f) Realizar debates abordando as temáticas transversais ligados ao esporte educacional;
g) Propor Plano de Capacitação Descentralizado, definindo metas para o exercício de
2007;
h) Desenvolver o estimulo a atividades produtivas e dedicação a uma aprendizagem
continuada;
i) Favorecer a interatividade com os outros atores do Programa Segundo Tempo;
j) Tornar o gestor bem preparado para enfrentar os desafios da gestão de convênios,
melhorando a qualidade e eficiência dos serviços prestados à sociedade.
Justificativa
O Ministério do Esporte, ao implantar o Programa Segundo Tempo como uma de suas linhas prioritárias, pretendeu democratizar o acesso à prática esportiva por meio de atividades  realizadas  no  contra-turno  escolar  com  a  finalidade  de  colaborar  para  a inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes,  portadores  de  necessidades  especiais,  comunidades  indígenas, quilombolas  e  afro-descendentes  que  encontram-se  dentro  e  fora  da  escola, principalmente em situação de vulnerabilidade social. Essa é uma tarefa de grandes dimensões, porque passa pela mudança de conceito sobre o papel que a atividade esportiva e de lazer desempenham. Trata-se de quebrar mitos  e  preconceitos  e  de  assegurar  maior  transparência  e  participação  popular  no processo da gestão governamental.Para que o esporte educacional seja valorizado é preciso identificar e integrar os agentes  nas  esferas  federal,  estadual  e  municipal,  definir  seus  papéis  e  suas responsabilidades, como também integrar no processo as escolas, empresas, entidades de classe, ONGs e as entidades gestoras do esporte.
Esportes participação
O Esporte-participação ou popular tem relações íntimas com o lazer e o tempo livre. Esta manifestação,  que  ocorre  em  espaços  não  comprometidos  com  o  tempo  e  fora  de obrigações  da  vida  diária,  de  modo  geral,  tem  como  propósitos  a  descontração,  a diversão, o desenvolvimento pessoal e as relações entre as pessoas. Também oferece oportunidades  de  liberdade  a  cada  praticante,  a  qual  inicia  na  própria  participação voluntária. A outra face de notável relevância social do esporte-participação é relativa à questão da participação, considerada como um aspecto essencial de democratização. O esporte-participação como a própria denominação sugere, ao promover a participação e ao  obter  sucesso  neste  seu  objeto  principal,  pode-se  afirmar,  equilibra  o quadro  de desigualdades  de  oportunidades  esportivas,  encontrado  na  dimensão  do  esporte rendimento. Enquanto o esporte-rendimento só permite sucesso aos talentos ou àqueles que tiveram condições, o esporte-participação, ao contrário, favorece o prazer a todos que dele desejarem tomar parte. Exemplos são os projetos políticos sociais se engajam na demanda sócio-esportiva do  país,  firmando  novas  parcerias  com  os  mais  diversos  setores,  que  juntos  visam contribuir  efetivamente  para  o  combate  das  mazelas  de  nossa  sociedade,  e  que conseqüentemente irão agregar valores inestimáveis às suas marcas, e inerentes a essa ação, como:  Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Governança.
A parceria firmada entre o Ministério do Esporte e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, possibilita a captação de recursos incentivados junto a pessoas físicas e jurídicas, as quais poderão direcionar suas doações aos Projetos Esportivos  Sociais  aprovados  de  sua  preferência,  por  meio  de  depósitos  em  conta específica no Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente, conforme disposto no Art. 260 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Ressaltamos que as doações realizadas por pessoas jurídicas não têm influência nas aplicações feitas às leis de incentivo à cultura, ou seja, Lei Rouanet e Áudio-visual. Diante  de  um  país  em  que  os  problemas  sociais  devem  ser a  principal preocupação  dos  governantes,  temos  o  dever  moral  e  ético  de  exercermos  a Responsabilidade Social, principalmente no que tange à democratização do acesso ao esporte e ao lazer para a infância e a adolescência. Tais conceitos estão presentes no Art. 227 da Constituição Federal, no Art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, e na Carta dos Direitos da Criança no Esporte - Avignone. Reconhecido sua importância, esse tema é constante nas discussões entre o Governo Federal e organismos internacionais como a Unesco, Unicef e ONU. É sabido que as classes menos favorecidas sempre viram o esporte como uma forma  de  galgar  posições  na  vida,  de  superar  barreiras  da  ascensão  social  e  de, potencialmente, obter sucesso. Comprovadamente, na atualidade, sabemos que é muito mais  que  isso...  Fazer  e  produzir  esporte  é  gerar  mais  saúde,  mais  equilíbrio,  e  é principalmente  um  importante  instrumento  para  capacitar  pessoas  a  ingressarem construtivamente na sociedade. A  Ação  Projetos  Esportivos  Sociais  dá  oportunidade  para  ampliarmos  o atendimento.
Esportes Rendimento 
Dimensão social do esporte que exerce efeitos importantes na sociedade. Por exigir uma organização complexa de investimento, o esporte rendimento, cada vez mais, passa a ser de responsabilidade de iniciativa privada. Traz consigo o propósito de novos êxitos esportivos, a vitória sobre os adversários nos mesmos códigos, e é exercido sob regras preestabelecidas pelos organismos internacionais de cada modalidade. O que impede de ser considerada uma ação democrática, é que ele tem uma tendência natural para que seja praticado principalmente pelos chamados talentos esportivos.

É  no  esporte  rendimento  que  se  encontra  a  crítica  aguda  ao  esporte, principalmente pelos autores que combatem  o capitalismo,  que consideram parte da competição  e  suas  vinculações  com  negócios  financeiras  sintomas  evidentes  de  um capitalismo exacerbado. Como exemplo do esporte rendimento apresentamos a rede CENESP que é composta pelas estruturas físicas e administrativas, recursos humanos e materiais existentes nas instituições de ensino superior, onde os centros ou núcleos estão implantados. Cada CENESP é formado em estreita parceria com a Secretaria Nacional de Esporte, o Comitê  Olímpico  Brasileiro,  o  Comitê  Para  olímpico  Brasileiro,  com  as  entidades  de administração do desporto em nível local, estadual e nacional, e com a iniciativa privada, como prestadores de serviços à comunidade esportiva em geral. O processo de implantação abrange todas as regiões geográficas, respeitando-se suas
peculiaridades.

Kênia Carneiro- Acadêmica de Educação Física. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Esporte,arte e cidadania



    Nas salas de aula, nas quadras, nos seminários, encontros e debates, o esporte está sempre na pauta das discussões. Sejam essas de cunho informal, como a que observamos nos comentários e análises dos torcedores brasileiros após um intenso final de semana esportivo; ou revestido de um caráter mais formal, onde as análises são mais aprofundadas, com o intuito de entender determinado fato esportivo ou o seu influxo no dia a dia. Nessas discussões, geralmente, o tema "esporte" gira em torno de questões, como:
- O esporte é o ópio do povo?
- O esporte é capaz de promover, naquele que o pratica, uma certa consciência crítica, ou ele, por si só, da forma como se encontra estruturado, é um elemento a mais a forjar indivíduos aptos a exercerem os seus papéis frente ao nosso sistema econômico?
- A quem serve o esporte?
- A violência que graça os palcos esportivos traduz, de alguma forma, a falência do sistema político onde o esporte está inserido?
- Pode o esporte, em uma sociedade de estrutura de classe burguesa, transformar-se em um fator contra-ideológico dessa sociedade?
- É o esporte um instrumento de transformação ou de dominação?
    Todas essas e outras indagações permeiam atualmente as discussões sobre o esporte entre aqueles que estão preocupados com o rumo do mesmo, no interior das escolas brasileiras - sejam elas públicas ou privadas. Cabe explicitar que, este artigo, não tem a intenção de responder a todas essas perguntas e, tampouco, esgotar as questões supra-citadas mas, apenas, evidenciar alguns elementos, no intuito de contribuir para as discussões pertinentes ao esporte, bem como propor alguns conteúdos temáticos, no sentido de redimensionar a nossa práxis pedagógica, levantando algumas considerações a respeito da nossa ação no contexto escolar.

Esporte: fenômeno social
    Esse debate, que se iniciou efetivamente no início da década de 80, tem levado alguns professores de educação física a se questionarem e a tomarem determinadas decisões, repensando a sua metodologia e promovendo uma transformação substancial no ensino do esporte na escola.
    Ao visitarmos algumas escolas de Salvador, fica mais do que evidente, que a afirmação supra-citada ainda não corresponde à totalidade dos professores. No entanto, percebe-se uma tentativa efetiva por parte de uma pequena parcela dos docentes em fazer, da sua aula, um momento de desenvolvimento das potencialidades humanas amplas, onde elementos como o mercantilismo do esporte, a violência das torcidas organizadas, dos jogadores em campo, a discriminação dos negros e da mulher, só para citar alguns exemplos são partes integrantes da metodologia de alguns professores da rede pública de ensino da referida cidade.
    Nesse sentido, o professor de educação física, tendo em vista a importância que assume o esporte como conteúdo das suas aulas, precisa refletir cotidianamente sobre a sua ação docente, quando da intenção de fomentar esse fenômeno social, que nos últimos tempos tem assumido uma dimensão bastante significativa em todo o mundo, despertando paixões, emoções e interesses diversos.
    E é justamente a dimensão educacional sobre a ótica da concepção histórico-crítica que precisa ser cada vez mais valorizada no universo escolar, onde o esporte envolve-se em uma roupagem performática, priorizando os talentosos em detrimento dos "pernas-de-pau", criando:
uma espécie de dupla pedagogia, pela qual um grupo de alunos, minoritários, está submetido a uma proposta inspirada no esporte de alto rendimento, enquanto o restante, que é a maioria, é desconsiderado pela escola. (RIGOR, 1995, p.90)
    Restringe, portanto, o professor, a abordagem do esporte em sua dimensão de performance, enfatizando as questões técnicas, aproveitando apenas aqueles alunos que já as dominam, que já sabem o esporte. Nesse sentido, o esporte é ensinado de forma descontextualizada, os rumos da ação pedagógica são caracterizados pela insistência na abordagem do esporte de rendimento, buscando sempre a otimização dos movimentos técnico-gestuais, onde não se leva em consideração o ritmo de cada aluno.
    Se quisermos mudar essa característica de abordagem do esporte escolar, temos de ter consciência do tipo de homem que queremos formar e do tipo de sociedade que queremos ter. Sem essas idéias claras, será difícil uma prática consciente e transformadora. Assim, vale ressaltar, que se faz necessário saber quais os valores que intrinsecamente estão sendo abordados e reforçados no bojo do ensino do esporte na escola.

A dimensão multifacetária do esporte
    O esporte moderno, oriundo da burguesia inglesa do século XIX, que, ao longo do tempo, foi criando características próprias onde a especialização, a busca de rendimento e a mercantilização, dentre outros aspectos, aparecem, atualmente, como sendo suas marcas principais, transforma-se a cada dia que passa pela sua abrangência e relações em um fenômeno transnacional, que envolve diferentes classes, raças e crenças, despertando paixões e emoções diversas.
    A estruturação do esporte moderno, a partir de elementos característicos das sociedades capitalistas, favoreceu algumas críticas por parte daqueles que o viam como um dos instrumentos de dominação burguesa. Esses autores compreendem, que
Pelas regras das competições, o esporte imprime no comportamento, as normas desejadas da competição e da concorrência; as condições do esporte organizado ou de rendimento são, simultaneamente, as condições de uma sociedade de estruturação autoritária. O ensino dos esportes nas escolas enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras e dá a estas um caráter estático e inquestionável, o que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim ao acomodamento.(BRACHT, 1992, p. 59)
    Devido a tais afirmações e entendimento, que Bracht (1992) considera como disfuncionais do processo de socialização através do esporte, muitas críticas ao esporte foram construídas pelo alto comando soviético após a revolução de 1917, pois, o mesmo, entendia-o como um divertimento de base burguesa.
    Essas considerações nos permitem perceber que existem diferentes conceitos e entendimentos sobre o esporte, e que esses determinam o seu caráter de utilização em diferentes estruturas sociais, pois o esporte...
(...) assim como outras esferas sociais, tais como a educação, a saúde, a comunicação etc., não possui poderes mágicos para existir independentemente das relações entre os sujeitos que as tornam reais, concretas e objetivas. (LOPES, 1987, p.82).
    Portanto, o primeiro passo para compreender o esporte em uma dimensão multifacetada, é pensá-lo como algo real, que sofre influência do meio externo e das pessoas que o praticam. O segundo passo, é compreendê-lo de forma ampla, não o restringindo a sua dimensão social em apenas um tipo de abordagem: o esporte de rendimento.
    Essa dimensão sócio-cultural do esporte é a que mais está evidente na prática esportiva escolar, onde o professor de educação física, em busca de uma valorização profissional, que por sua vez é medida pelos números de torneios vencidos, medalhas adquiridas ou de troféus erguidos, deixa de considerar alguns elementos essenciais para a estruturação de uma aula realmente educativa, contra-hegemônica, reforçando a competição exacerbada e a discriminação através da seletividade e do individualismo.
    Nas universidades, berço de formação dos professores que vão atuar com o esporte na escola, essa cultura esportiva é alimentada de forma sistemática. Muitas vezes, nas próprias academias, o esporte não é pensado criticamente e nem valorizado enquanto elemento da nossa cultura corporal. Ao contrário, os alunos dos cursos de licenciatura e bacharelado em educação física trazem, em sua história de vida, elementos do esporte de rendimento praticados por eles antes de ingressarem na universidade e esta, com a sua prática irrefletida, reforça esses movimentos corporais estereotipados, estendendo-o à escola.
    E é no ambiente escolar que os maiores equívocos são cometidos por parte dos professores, que enfatizam a eficiência, eficácia e rendimento. São por essas e outras questões que quando perguntamos a algumas pessoas o que elas vêem de essencial no esporte, as respostas são quase sempre vazias de significados. Não sabem responder, por exemplo, o que de importante elas aprenderam no vôlei ou no basquete, que não tenha sido apenas relativo aos gestos técnico-esportivos. Sem falar naqueles que se sentiram totalmente à margem do processo, por não terem as habilidades imprescindíveis à prática do esporte escolar.

Esporte escolar: aprendizagem significativa-existencial-coletiva
    Praticamos muito esporte, mas refletimos pouco sobre ele e sobre os conteúdos que dele emergem. O racismo, o individualismo, a ética, a passividade, a inércia, a violência, a agressividade e tantos outros fatores que surgem na sua prática, são pontos considerados relevantes para uma discussão com os alunos no interior da escola, mas o que tem sido feito? Apenas transmitem-se técnicas e estilos de ensino do esporte aos alunos, fazendo com que eles aprendam um esporte e não com o esporte, em uma abordagem eminentemente tecnicista, elitizando uma parcela do alunado. No entanto, essa postura seletiva, elitista e discriminadora tem que se transmudar em uma temática socializante, pois...
(...) cabe ao professor engajado na luta mais ampla, que excede o âmbito da escola e do sistema de ensino, escolher entre fazer de sua ação pedagógica um instrumento que apenas reproduz as violências educacionais (desigualdades, discriminação, preconceitos, etc) ou torná-la uma poderosa arma de negação desta caótica situação. (CARMO, 1985, P. 39).
    Para que isso aconteça, é necessário que os professores estejam sempre alertas para os acontecimentos do dia a dia como fatores de enriquecimento dos conteúdos, nesse caso, o esporte. É preciso fomentar a crítica, questionar o cotidiano. Porque não, como propõe Pey (1991), no bojo de uma aprendizagem significativo-existencial-coletiva, vertermos a nossa crítica para o vivido aqui e agora, interpretando e questionando a realidade que nos circula?
    Aqui, pode-se relembrar o que aconteceu após a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos da América, onde aconteceu o episódio da Seleção Brasileira a respeito dos produtos que os jogadores traziam em suas bagagens. Produtos esses que, de acordo com a Lei, deveriam ser taxados devido ao excesso de peso, porém nada aconteceu. O fato teve grande repercussão na imprensa falada e escrita e alguns questionamentos surgiram: liberam ou não o imposto? Todos pagam impostos no Brasil? O fato de os atletas serem tetra-campeões lhes davam o direito de exigirem isenção?
    O referido fato trouxe à tona esses e outros questionamentos. Não seria o caso de se refletir mais profundamente com os alunos sobre esta situação ou outra, trazendo às aulas elementos do próprio cotidiano? Poderiam ser solicitadas entrevistas ou algo que o valha, opiniões dos familiares e amigos sobre o assunto, culminando em debates e seminários em sala de aula.
    Na Copa da França tivemos a denúncia de jornalistas a respeito da interferência de uma famosa marca de tênis sobre a Seleção Brasileira. O que está sendo feito com esses elementos que permeiam a prática não só do futebol, mas do esporte de uma forma geral? É uma pena constatar que muitos professores, segundo Carmo (1985), assistem passivamente pela televisão as violências nos campos de futebol, os subornos, os artifícios espúrios de que alguns dirigentes lançam mão para vencerem, e nem sequer aproveitam estas condições para despertar nos alunos o senso crítico, na busca dos determinantes destes fatos!

Conteúdos temáticos: proposta metodológica
    As reflexões levantadas até aqui apontam para um nível de compreensão do esporte a partir da perspectiva histórico-crítica, onde a busca dos gestos esportivos performáticos não sejam o essencial na nossa ação educativa. Um elemento tão rico em significados, não deveria ser colocado em um plano tão reduzido.
    No cotidiano das aulas de educação física, é perceptível uma prática reprodutora do esporte de rendimento que é vivenciado na mídia televisiva: esgota-se em cada aula para ser, na próxima, mais uma vez reproduzida, sempre com um fim si mesma. E é no sentido de superação dessa realidade, que se propõem alguns temas na intenção de subsidiar as aulas.
    As propostas que serão apresentadas aqui, foram estabelecidas a partir de discussões com alguns colegas da área, em cursos que tive a oportunidade de ministrar e no cotidiano escolar:
  1. Permitir a exploração de gestos e movimentos diversos na resolução de problemas apresentados pelo professor. Exemplo: 1- O que é arremesso? 2- Quais os tipos de arremessos que podem ser feitos? 3- Existem outras formas de arremessar? 4- Em que outras situações do cotidiano utilizamos o arremesso?;
  2. Partindo do esporte já normatizado, perguntar: 1- Todos podem fazer parte desse esporte? 2- O que impossibilita a participação de todos? 3- Podemos mudar as regras?;
  3. Dentro da perspectiva de que os alunos trazem consigo histórias próprias de movimentos esportivos, permitir que eles proponham a sua forma de utilização;
  4. Abordar os fenômenos esportivos e as questões mais amplas que envolvem o esporte, tais como: a violência das torcidas organizadas, o papel dessas torcidas no espetáculo esportivo, a "charanga", as músicas cantadas, os subornos, o doping , a discriminação racial entre outros em forma de seminários, envolvendo toda a escola;
  5. Abordar as mudanças que o esporte sofreu ao longo do tempo. Se possível, vivenciar essas mudanças;
  6. Experimentar a vivência de diferentes materiais em atividades semelhantes, observando e discutindo as dificuldades sentidas pelo grupo;
  7. Elaborar seminários, através de pesquisas sobre diversos temas relativos ao esporte;
  8. Desenvolver painéis alusivos ao tema que estiver sendo trabalhado em aula, espalhando pela escola;
  9. Desenvolver olimpíadas inter-salas e/ou escolares onde os alunos participem na estruturação das mesmas, inclusive nas modificações das regras dos jogos onde a tônica deverá ser a participação de todos.

    Os pontos abordados são formas metodológicas que podem ser utilizadas nas aulas, respeitando a faixa etária do aluno, bem como a sua realidade. É importante que o professor fique atento para o surgimento de outros conteúdos temáticos na dinâmica da sua aula, para que, desta forma, o fenômeno esportivo ganhe mais sentido e significado no cotidiano escolar. Observar o esporte e as suas relações com o mundo que o cerca, e permitir uma compreensão crítica do mesmo junto com o aprendizado dos movimentos gestuais que possibilitem o jogar, é o mínimo que se espera do professor de educação física.

Referência bibliográfica
  • BRACHT, Valter. Educação Física e Aprendizagem Social. Porto Alegre, Magister, 1992.
  • CARMO, Apolônio Abadio do. Educação Física: Competência Técnica e Consciência Política: em busca de um movimento simétrico. Uberlândia, UFU, 1985.
  • PEY, Maria Oly. Reflexões Sobre a Prática Docente. São Paulo, Edições Loyola, 1991.
  • RIGOR, Luiz Carlos. A Educação Física fora de forma. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Santa Maria, UNIJUÍ. Vol. 16, Nº. 02, 1995, p. 82-93.
Fonte:http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004

Aluna de Educação Física: Dayse Jadão

A história dos jogos escolares


s competições estudantis são uma oportunidade de estímulo ao espírito esportivo, além de difundirem os valores do esporte entre os jovens. São 41 anos de história de incentivo à prática esportiva nas escolas do Brasil. Jogos Estudantis Brasileiros, Jogos Escolares Brasileiros, Campeonatos Escolares Brasileiros, Jogos da Juventude, Olimpíadas Colegial Esperança e as atuais Olimpíadas Escolares fazem parte dessa história.
Os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) foram a primeira competição de cunho escolar de abrangência nacional. Criada em 1969 pela antiga divisão de Educação Física e Desporto do Ministério da Educação e Cultura (DEF/MEC), a edição de estreia foi realizada na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
Em 1976, esses jogos sofreram a primeira mudança de nome, para que estivessem em consonância com a Lei nº 6.251 de 1975 e com o Decreto 80.228 de 1977, que dividia o esporte estudantil em esporte escolar e esporte universitário. Os jogos então passaram a ser chamados de Jogos Escolares Brasileiros (JEB´s). Numa tentativa de tornar os jogos mais econômicos, em 1978, 1980 e 1982 aconteceram os Campeonatos Brasileiros Escolares, divididos por modalidades e classificatórios para o JEB´s dos anos seguintes.
Entre 1985 e 1989, ocorreram muitas mudanças nos jogos, e uma das principais foi o veto à participação dos atletas escolares federados nesses eventos. Essa atitude levou a uma brusca queda no nível técnico da competição. Por outro lado, esse período marca o início da participação dos atletas com deficiência nos eventos escolares.
Na década de 1990, com o surgimento dos Jogos da Juventude, o Comitê Olímpico Brasileiro passou a participar da organização dos jogos em parceria com o Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp). Com o advento da Lei Agnelo/Piva (10.264/01), determinando que 10% dos recursos das loterias destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) sejam aplicados no esporte escolar, essas entidades (COB e CPB) passaram a assumir o protagonismo na organização da fase nacional dos jogos escolares.
Com o amadurecimento dos jogos, observou-se que o crescente envolvimento da escola no processo (iniciado com as Olimpíadas Colegial da Esperança em 2000) e a fonte de financiamento de formato sustentável (Lei Agnelo/Piva, 10.264/01), possibilitaram uma maior participação dos atletas escolares nas Olimpíadas Escolares, criadas em 2005, fruto da parceria entre o Ministério do Esporte, Comitê Olímpico e a Rede Globo.
A Olimpíada Escolar integra atletas escolares da rede pública e privada do país, envolvendo aproximadamente seis mil jovens em duas edições anuais - de 12 a 14 e 15 a 17 anos. Para participar do evento é necessário passar por seletivas municipais e estaduais até chegar à etapa nacional, em que os atletas escolares representam a escola de origem.
Fonte: Arantes, A.C.A. “Jogos escolares brasileiros: Reconstrução histórica” Revista Motricidade , suplemento do VOL 7, 2011. Vila Real

Aluna de Educação Física :Kênia

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


ESPORTE DA ESCOLA OU NA ESCOLA?
          Segundo Bracht, “a EFI tem seu papel no processo de socialização. E, socialização é uma forma de controle social, pela adaptação do praticante aos valores e normas dominantes como condição alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade”. Percebe-se que, assim como as outras disciplinas, a EFI tem seu papel na construção de valores e códigos que permeiam a sociedade. Bracht ainda coloca que “...realmente o esporte educa. Mas, educação aqui, significa levar o indivíduo a internalizar valores, normas de comportamento, que possibilitarão adaptar-se à sociedade capitalista. Educação que leva ao comportamento e não ao conhecimento”. É com essa afirmação que percebemos o que pode nos dizer essas duas terminologias: esporte na escola e esporte da escola. O esporte da escola se caracteriza por um esporte de rendimento, de treinamento, baseado no esporte olímpico, injetado na escola por uma cultura dominante, televisiva e mercadológica. (Rita 2004). Como isso se dá na prática? Desenvolvem-se modalidades esportivas mais conhecidas como futebol e, no máximo vôlei; privilegia como conhecimento de determinadas modalidades esportivas, exclusivamente a execução técnica e tática dos seus fundamentos; reforça a idéia de ascensão social através do esporte; “sobe essa característica cabe uma análise: vivemos em um país de população predominantemente, na linha da pobreza e, por isso, com muitas dificuldades de ascensão social pela educação. O esporte acaba sendo visto como uma possibilidade imediata para se” dar bem na vida “tanto, filhos como a família”. Além dessas, outras características como reforço do individualismo e privilégio das atividades repetitivas e mecânicas. Os PCNs para a área de Educação Física escolar trazem três aspectos que evidenciam as característics básicas do esporte na escola: o da inclusão, que sistematiza objetivos, conteúdos, processos de ensino-aprendizagem e de avaliação com o intuito de inserir o aluno na cultura corporal de movimento; o da diversidade, mais aplicado à construção dos processos de ensino e aprendizagem, assim como uma orientação da escolha de objetivos e de conteúdos, visando a ampliar as relações entre os conhecimentos da cultura corporal de movimento e os sujeitos da aprendizagem. Por último, as categorias de conteúdos (conceitual, atitudinal e procedimental) (BRASIL, 1998).
       Elenor Kunz: “É uma irresponsabilidade pedagógica trabalhar o esporte na escola que tem por conseqüências provocar vivências de sucesso para uma minoria, e vivência de insucesso ou fracasso para a maioria”.
          Em contraposição, o esporte na escola privilegia a manifestação cultural e coletiva, própria de cada comunidade e carrega a perspectiva da autonomia. Trabalha-se com os aspectos de cooperação e coletivismo, onde nos sensibiliza para a percepção de que a sociedade é construída a partir dos relacionamentos e dependências com os outros indivíduos que nela coexistem. E que isso, dar valor ao outro, é atuar com inteligência e estratégia na construção de uma sociedade construtiva e pacífica. Também encaminha as crianças para uma prática prazerosa sem se furtas às competições pedagógicas. Pode-se aliar técnica, disciplina e estudo rigoroso sobre determinada atividade. A partir daí, o esporte na escola contribui para se identificar os talentos às mais variadas modalidades e encaminhá-la aos clubes de competição.




Helder Rodrigo - Acadêmico de Educação Física.